quinta-feira, outubro 06, 2005

Calçada dos Barbadinhos


Pertencente à freguesia de Santa Engrácia, a Calçada dos Barbadinhos liga a Rua da Cruz de Santa Apolónia à Rua de Sapadores. Com pouco mais de 250 anos de existência, esta artéria de casario modesto mantém, no troço mais antigo, o seu aspecto setecentista. De um lado, a propriedade dos Van Zeller, antes pertencente à Quinta dos Senhores de Pancas, e o conjunto conventual dos Barbadinhos. De outro, a correnteza de pequenas casas que integraram a propriedade do opulento Vasco Lourenço Veloso, foram depois da Companhia Portuguesa de Tabacos, e mais recentemente, da Brigada Fiscal da G.N.R..
A abertura da rua foi iniciativa dos frades capuchinhos italianos. Constituindo um dos três ramos da primeira Ordem Franciscana, estes religiosos ficaram conhecidos em Portugal por «Barbadinhos», não só pela barba que usavam, mas para se distinguirem dos frades Capuchos, chamados genérica e popularmente pelo diminutivo.
Uma vez que as Missões no Brasil e em Angola, em meados do século XVII, careciam de licença da Coroa Portuguesa, os Capuchinhos embarcavam em Lisboa, cidade a que tornavam no regresso. A conveniência de um local onde pudessem ficar hospedados levou a que os Barbadinhos italianos fundassem uma casa para seu uso exclusivo, após vários anos alojados em casa alheia. Depois de instalados no mosteiro dos confrades franceses, à Esperança, e no antigo recolhimento das Comendadeiras de Sant’Iago, a Santa Apolónia, construíram o seu convento neste último sítio. A questão dos acessos levantada pela localização da nova casa foi resolvida pela cedência de uma fatia de terreno, pelas freiras vizinhas de Santa Apolónia. Desta forma puderam abrir um caminho que lhes deu serventia ao convento. Nascia, assim, a rua Nova dos Barbadinhos, depois apenas rua, e posteriormente, calçada.
O templo dos Barbadinhos merece uma atenção cuidada. No interior, além do magnífico tabernáculo no altar-mor, destaca-se a decoração com madeiras ricas do Brasil, sem recurso à cobertura de ouro usual da talha portuguesa. No exterior, além das cantarias não afeiçoadas, o realce recai sobre a contorcida pedra de armas reais que decora a fachada. Uma vez extintas as ordens religiosas, os hábitos dos Barbadinhos italianos desapareceram do sítio. A sua igreja, de Nossa Senhora da Porciúncula, acolheu então a paróquia de Santa Engrácia (1836), assim se mantendo até aos nossos dias. Ultrapassou as quatro centenas o número destes religiosos que rumaram a Angola ao longo dos dois séculos de missionação com sede em Portugal. Notabilizados pela actividade missionária e pelos livros publicados em várias línguas nos sécs. XVII e XVIII, os Barbadinhos mantêm-se presentes na memória alfacinha através do nome da calçada.

In http://www.escritadigital.pt/, publicado por Jorge Ferreira Paulo.